sexta-feira, 31 de março de 2017

55° dia - Adolescência - aula 1

Teresópolis, 31 de março de 2017

O módulo da Adolescência foi apresentado em duas aulas. Na sexta feira quem conduziu foi Silvia Rocha. Ela abordou os ritos de passagem, a jornada do heroi (o monomito de Joseph Campbell) interligando-os com nossas experiências contemporâneas.
Joseph Campbell e outros acadêmicos como Erich Neumann, descrevem as narrativas de Gautama Buddha, Moisés e Cristo em termos do monomito e Campbell afirma que mitos clássicos de muitas culturas seguem esse padrão básico. O padrão do monomito foi também adotado também por George Lucas para a criação da saga Star Wars.
Após o conteúdo fizemos uma vivência. Modelamos nossos quartos de adolescente usando massinha de modelar. Foi muito bom rememorar aqueles dias. 
No meu quarto estão representadas eu, minhas amigas Inês e Lucely, e minha irmã Sonia. Há almofadões coloridos pelo chão. Nossas camas com gavetões e uma vitrola onde escutávamos nossos LP`s favoritos. Beatles, Carly Simon, Renaissance, Trilhas sonoroas de filmes, Yes, Janis Joplin, James Taylor, Rick Wakeman, dentre outros.
Esse foi um período de muita praia, da descoberta do sexo, namoro e muitas amizades.
Meu comportamento na época foi rebelde e contestador. À luz dos conhecimentos junguianos compreendi que estive dominada pelo arquétipo do heroi. Acreditava estar imune aos perigos que me rondaram. Drogas, pessoas de índole duvidosa cruzaram meu caminho nessa ocasião. 
Ao final da aula Silvia sugeriu que assistíssemos o filme Odisseia, e localizássemos os 12 pontos de virada da jornada do heroi abaixo relacionados:


  1. Mundo Comum - O mundo normal do herói antes da história começar.
  2. O Chamado da Aventura - Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura.
  3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado - O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.
  4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural - O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura.
  5. Cruzamento do Primeiro Portal - O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.
  6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia - O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.
  7. Aproximação - O herói tem êxitos durante as provações
  8. Provação difícil ou traumática - A maior crise da aventura, de vida ou morte.
  9. Recompensa - O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).
  10. O Caminho de Volta - O herói deve voltar para o mundo comum.
  11. Ressurreição do Herói - Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.
  12. Regresso com o Elixir - O herói volta para casa com o "elixir", e o usa para ajudar todos no mundo comum

quarta-feira, 29 de março de 2017

54° dia - Boneca Maria Flor

Teresópolis, 29 de março de 2017

Em 25 de março de 2017 no módulo "A criança interior: o complexo criativo e as técnicas utilizadas para despertar a criança interior e a criatividade", dado pela professora Moema Quintanilha, iniciamos a confecção das bonecas que retratam nossa criança interior.
Levamos um par de meias usadas, linha, agulha, lã, retalhos etc. Moema levou muitos sacos plásticos que foram utilizados para encher as bonecas. Fizemos bonecas de meia ecológicas.
Antes de iniciarmos as bonecas, cada participante retirou uma carta do baralho, parte integrante do livro Palavra de Criança de Patricia Gebrim. Em seguida fomos orientadas a fazer a boneca pensando na mensagem da carta. 
Minha carta foi Justiça.
Hoje finalizei minha boneca e batizei-a Maria Flor. Fiz um avental simbolizando sua disposição em servir. Caprichei nos adereços e coloquei tudo que Maria Flor gosta.
Máquina fotográfica, carretel de linha, paleta e pincel, gatinho, um regador regando o coração - porque Maria Flor precisa amar mais para julgar menos - na blusa há uma abelhinha voando em direção à uma rosa.
Na mão direita ela segura um lápis e na esquerda uma mensagem da carta da Justiça "Permita que o amor supere seus julgamentos". 
Foi muito bacana confeccionar a bonequinha, principalmente tendo em mente a mensagem da carta.
Maria Flor é o retrato de minha criança interna.



Maria Flor é uma bonequinha de meia. Ela pensa menos e ama mais, e sendo amorosa ela é justa consigo mesma e com os outros.


segunda-feira, 27 de março de 2017

53° dia - Borboleta e copos de leite com garatuja

Teresópolis, 27 de março de 2017


Ainda sob o impacto do módulo A criança Interior, do final de semana anterior, onde vivi uma experiência sensorial profunda (senti a sensação de sugar o leite materno), na segunda feira encontrei-me com Vanda Viola para mais uma sessão de arteterpia.
Ela propôs um trabalho com riscos aleatórios. 
Primeiro fizemos uma breve meditação e relaxamento. 
Depois fui instruída a, com os olhos fechados, fazer 3 desenhos a lápis em folhas de formato A3. 
O primeiro deveria ser traçado com suavidade, o segundo com traços inquietos e o terceiro com traços bem vigorosos.
Escolhi trabalhar durante a sessão com o desenho de traços suaves. Os outros dois traçados foram concluídos em casa (publicação de 30/04/2017).  
Vanda me deu aquarela e iniciei o trabalho expressivo. Primeiro surgiu uma borboleta, símbolo de transformação. Folhas e um lago. Quando dei forma aos copos de leite lembrei-me da experiência de sugar o leite materno. Dois copos de leite. Eu e mamãe. A espiral partida interpretei como a energia vital de mamãe desconectada, um presságio de morte. Fiquei profundamente emocionada.
O tema "mãe" está forte e muito atuante em mim nesse momento.
Vanda foi muito carinhosa, compartilhou suas vivências com a própria mãe. Senti acolhimento e saí da sessão confortada.
Sobre o complexo materno a psicanalista junguiana, Vanilde Gerolim Portillo, nos elucida no texto Complexo materno em:  http://www.portaldapsique.com.br/Artigos/Complexo_Materno.htm.
"Quando um complexo é constelado indica que está havendo um desequilíbrio na psique e que há uma unilateralidade entre seus componentes bipolares. Neste sentido, os efeitos dos complexos deverão ser vistos como sintomas de que algo vai mal na organização interna do indivíduo ou que há conflito interno. A constelação de um complexo tira o indivíduo da inércia, apatia e o impulsiona para a atividade. Uma vez que há sofrimento haverá a tendência de sair dele. Se bem resolvido, o conflito poder ser visto positivamente, pois implicará num upgrade da personalidade, um salto qualitativo na vida da pessoa.
Especificamente sobre o complexo materno Helmut Hark diz o seguinte:
“Por complexo materno devem-se entender todos os efeitos psicoenergéticos do arquétipo materno e da imagem materna. Embora esse conceito indique o conjunto de todas as experiências positivas e negativas com a maternidade no sentido transpessoal e com a própria mãe, ele é predominantemente utilizado no contexto psiconeurótico.
Todo complexo orienta-se através de um núcleo arquetípico, então a base do complexo materno é o arquétipo materno."




sábado, 25 de março de 2017

52° dia - Módulo A criança interior


"Para recuperarmos o estado de inocência é preciso aprender a aprender com as crianças, para nos tornarmos como elas"
Pedro Figueiredo Ferreira

Teresópolis, 25 de março de 2017

O módulo criança: complexo criativo e as técnicas utilizadas para despertar a criança interior e a criatividade foi dado pela professora Moema Quintanilha.  
Um módulo riquíssimo em vivências e aprendizado.
Iniciamos um trabalho expressivo com uma folha A4 dobrada ao meio onde escrevemos nosso prenome. Em seguida recortamos e colamos o nome numa folha A3. A proposta era desenhar o que nossa criança tem por dentro, aquilo que gostaríamos de expressar.
No meu desenho a criança interior surge "olhuda" curiosa. Desenhei seus chakras. No chakra base sapatinhos vermelhos, como ela se move. No segundo chakra uma taça, onde estão seus tesouros criativos. No plexo solar um Sol radiante. No chakra cardíaco um grande coraç˜ao com jardim, flores e pássaros. No terceiro olho uma joia lilás cuja energia irradiada subiu ao chakra da coroa e espalhou-se.
Não foi representado o chakra ligado à comunicação. A criança está muda. Será que tem medo de expressar-se? 
Fui uma criança tímida. Falar em público sempre foi um problema para mim. Interessante notar que sou geminiana, signo da comunicação. Em meu mapa natal a lua transita pela terceira casa da comunicação. Minha comunicação se dá pela lua, pelo sentimento.



O segundo trabalho expressivo foi feito numa folha A3 divida em cinco partes como um quebra-cabeça. Em cada parte desenhamos situações ligadas aos sentidos a partir das memórias da infância de momentos felizes. 
Antes de iniciarmos os desenhos uma pequena bola texturizada era jogada, fechávamos os olhos em busca das sensações relacionadas ao sentido a ser expresso.
Audição - representei com uma gatinha pois ouvi mamãe cantar para mim uma canção da infância. No quebra cabeças essa peça foi a menor, e a que teve menos representaç˜ões. É preciso desenvolver a escuta.
"minha gatinha parda, 
onde anda que ninguém viu, 
onde está minha gatinha, 
você sabe? você sabe? você viu?"
Visão - nuvens com carinhas, como as formas que inúmeras vezes ficávamos vendo nas nuvens. Bandeirinhas e balão das festas juninas, minha época favorita do ano. O barquinho no mar simbolizando a procissão de São Pedro, um dia inesquecível para mim.
Paladar - a mesa posta na casa de Vovó Lili com seus deliciosos pastéis de carne moída; a vitamina de abacate feita por papai nas tardes de sábado; a pizza do Braz onde eu e Franklin comunicamos à família nossa decisão de casar; as taças de vinho em Buenos Ayres onde eu e Franklin brindamos nossa lua de mel; os deliciosos bolinhos de feijoada do Bar da Frente onde fomos com Vanessa quando ela esteve no Rio em 2014. 
O último sentido a ser expresso foi sinestesia, sentido ligado às sensações. Quando iniciei o recorte das peças do quebra-cabeça notei que as quatro primeiras partes estavam muito retas, então decidi fazer um desenho mais arredondado. Esse pedaço foi o último a ser utilizado e expressou a sinestesia.
 
Moema jogou a bola para mim. Segurei-a, fechei os olhos, e num átimo retornei ao exato momento em que sugava o leite no seio de mam˜ãe. Foi indescritível. Instantaneamente abri os olhos e exclamei emocionada "isso foi incrível"! 
A forma do papel coincidiu exatamente com o formato de um seio. Quanta sincronicidade!
Foi uma experiência sensorial muito rápida, intensa e profunda.

Iniciamos a confecção do jardim da nossa infância(imagem acima) utilizando papelão, pintura e colagem com diversos materiais, e de uma boneca de meia. Ambos trabalhos foram finalizados em casa. A boneca de meia, Maria Flor, ganhou destaque na publicação do dia 29 de março.
Também recebemos como tarefa de casa a elaboração de um trabalho expressivo a partir da sobra de papel do recorte do prenome (primeiro trabalho do dia).
Um mar com muitas ondas onde uma baleia e um escaravelho rumam em direção ao Sol. 
O Sol foi representado à direita do trabalho com sete braços.
No fundo do mar há riquezas e muita vida. Uma baleia, um escaravelho, uma ostra com uma pérola, estrelas e um cavalinho marinho. 
Um desenho que evoca a sede de iluminação ao subir na crista das ondas, e também a necessidade de mergulhar fundo no mar, onde lindos tesouros me aguardam.

quarta-feira, 22 de março de 2017

51° dia - Fantasmas


A sombra imagem minha

A sombra imagem minha
que para cá e para lá
vai procurando um jeito de viver
através da conversa, da barganha
- quantas vezes eu dou por mim parado
a ver por onde ela passa,
quantas vezes indago e ponho em dúvida
que aquilo seja realmente eu;
mas entre os meus amantes
e no cantarolar destas canções,
ah, eu não duvido jamais
que aquilo seja realmente eu. 
Walt Whitman
Teresópolis 22 de março de 2017

A composição Fantasmas foi produzida na reposição de uma aula do curso de Introdução a Arteterapia com Silvia Rocha.
Utilizamos papel e carvão para expressar nossos fantasmas.
Silvia falou sobre o arquétipo da sombra, segundo a psicologia junguiana e, em seguida, nos apresentou algumas imagens sugestivas de fantasmas para nos inspirar: 

  • o fantasma da preguiça, 
  • o fantasma que está sempre no mundo da lua, 
  • o fantasma do desespero, 
  • o mentiroso fantasma, 
  • o fantasma que se sente sempre perseguido, 
  • o fantasma raivoso, 
  • o fantasma medroso, 
  • o fantasma que a todos quer ajudar, 
  • o faz tudo super rápido fantasma, 
  • o fantasma da desordem, 
  • o fantasma da auto piedade, 
  • o ambicioso fantasma, 
  • o fantasma convencido, 
  • o fantasma do coração partido, 
  • o fantasma que está sempre se desculpando, 
  • o fantasma que nunca tem tempo, 
  • o fantasma da timidez, 
  • o fantasma que está sempre sob pressão, 
  • o fantasma arrogante, 
  • o fantasma que adora ser o centro, 
  • o nunca está satisfeito fantasma,  e 
  • o fantasma da insegurança.

Inspirei-me no fantasma que a todos quer ajudar e fiz o Ocupadox que está sempre ocupado com os outros porque quer agradar. Ele não se sente amado.
Dar forma e falar sobre sentimentos que nos incomodam é libertador.
Cada participante apresentou seu fantasma. Atuando como facilitadora Silvia eventualmente perguntava "para que serve esse fantasma?"
Num segundo momento fomos convidados a fazer as pazes com o fantasma. Compreender os motivos que levaram o fantasma a agir daquela forma. Entendi que a motivação do meu fantasma era não se sentir amado. Esse sentimento começou logo após o meu nascimento. Quando nasci mamãe teve mastite e eu mastite neo natal. Cada uma de nós retirou um tumor benigno no seio direito. Temos o mesmo formato de cicratriz. 
Em razão das cirurgias, minha e de mamãe, fiquei com minha avó Lili por quinze dias. Esse afastamento gerou o sentimento de desamor que, na verdade, não corresponde à realidade. Fui muito amada pela minha mãe e sou uma pessoa muito amada. 
A partir dessa compreensão coloquei outra cabeça sorridente no fantasma e um coração representando esse amor.
Fiz as pazes com o Ocupadox.
Meu trabalho ficou muito claro. Compreendi que talvez seja pelo fato de que esse fantasma esteja mais apagado dentro de mim.
Um outro aspecto do Ocupadox é o de se ocupar do outro para dominar, já trabalhado em terapia anterior.


segunda-feira, 20 de março de 2017

50° dia - Bruxinha em frottage

Rio de Janeiro, 20 de março de 2017.

Na sessão de arteterapia com Vanda Viola fiz essa composição utilizando a técnica frottage, método surrealista e de produção criativa desenvolvido por Max Ernst.
No frottage utilizamos lápis e friccionamos o papel sobre uma superfície texturizada. 
Eu não conhecia essa técnica. Explorei vários materiais para formar as texturas. Botões, folhas, rendas, linhas e crochê. Depois recortei os diversos papéis texturizados e fiz o trabalho expressivo.
Foi muito gostoso de fazer.
A bruxinha sou eu. O braço esquerdo é uma folha da qual nasce uma segunda folha. O braço direito é a própria vassoura da bruxa de cujas cerdas saem chispas de luz, denotando o poder mágico de sua "varinha". Os olhos são verdes e estão bem abertos e atentos. A bruxa parece surgir da Mandala atrás de si. A imagem é hipnótica.
Interessante notar que a lua ficou parecendo um croissant (pão de massa folhada inventado na Áustria. Em 1683, em plena batalha de Viena, os padeiros ouviram soldados otomanos cavando um túnel e ao dar o alarme conseguiram impedir o ataque. Em homenagem à essa vitória fizeram o pão no formato de uma lua crescente, alusivo à bandeira do império Otomano).

sábado, 18 de março de 2017

49° dia - Arquétipos estruturantes (continuação)

Teresópolis, 18 de março de 2017.

Jacqueline Telles foi a professora convidada no curso de formação e também falou sobre os arquétipos estruturantes. 
Foi uma aula excelente e tivemos a oportunidade de experienciar três vivências.
A primeira foi o Self, matriz de todo o progresso do Ser. O núcleo atômico. A ponte para o sagrado.
Antes de iniciarmos nossa primeira vivência do Self, Jacqueline contou o belo conto coreano "O dragão azul e o dragão amarelo".

A pintura foi concebida com o papel na posição vertical. Senti uma calma absoluta, e a enegia pulsante dos vórtices alaranjados. As pinceladas seguiram uma trajetória suave. Rosa e azul estão integrados na composição demonstrando equilíbrio. O número 5 surge aqui como uma possibilidade energética. Esse é o meu número especial.
A segunda vivência foi com a técnica Soul Collage. 
"SoulCollage® é um processo intuitivo e experiencial que  tem como objetivo acessar o inconsciente, a sabedoria interior. Soul – Alma, Collage - colagem “Colagem da alma”, é a produção de imagens criativas que dão forma às várias faces da alma. É um processo que te convida ao auto-conhecimento, um mergulho nas imagens interiores. O Soulcollage® foi criado por Senna Frost, teóloga e mestra em Psicologia, no final dos anos 80.  Momento em que estava imersa no mundo dos mitos, da psicologia do arquétipo e explorando diversos caminhos espirituais."
http://www.soulcollagebrasil.com/p/soulcollage.html


Jacqueline trouxe uma caixa com muitas páginas de revistas e alguns recortes, e cartões 20X13 com seu respectivo envelope de celofane para guarda. Fomos orientadas a pegar um bolo de imagens, aleatoriamente, e fazer uma colagem utilizando entre três e cinco imagens. 
No término da colagem olhamos a carta e sentimos o que ela nos transmite. Depois completamos a frase "eu sou alguém que ..."
Minha carta respondeu: "eu sou alguém que busca o conhecimento por meio da arte e do contato humano".


A última proposta de trabalho do dia veio após a leitura do belíssimo poema "Eros e Psique" de Fernando Pessoa. 

Na expressão de Eros e Psiquê, observei a imagem de Eros maior e dominante. Psiquê está posiciona atrás de Eros. Ambos recebem a energia do amor que entra e sai de suas bocas e olham para o Sol.


O dragão azul e o dragão amarelo – conto coreano

No país do sol nascente, pelo vigésimo aniversário da sua coroação, o imperador resolveu decorar a sala do trono do palácio com o mais belo biombo que alguma vez se vira.
Convocou o pintor mais célebre do império que vivia numa gruta longe da cidade.
O artista dirigiu-se imediatamente à corte e o imperador deu-lhe a conhecer o seu propósito: no biombo da sala do trono deviam figurar dois dragões, um azul e outro amarelo, para simbolizarem o poder do Império e a paz que tinha caracterizado o seu tempo de reinado. O pintor fez uma vénia e respondeu que pintaria dois dragões em seda preta, mas com uma condição: para o biombo ser tão belo como era vontade do imperador, precisava de um tecido de seda, mas a seda teria de ser mais fina do que todas as sedas alguma vez tecidas.
— Vou retirar-me para a minha gruta — acrescentou o pintor — até que a seda seja tecida; assim terei tempo de me preparar para fazer a pintura dos dragões.
Em seguida, o pintor abandonou a corte e regressou à sua gruta, começando logo a trabalhar.
O imperador ordenou que começassem imediatamente a fabricar a mais fina das sedas que alguma se vira.
Mas o fabrico foi muito mais difícil do que o imperador imaginara.
Primeiro, foi preciso escolher meticulosamente os bichos-da-seda, porque os que até então tinham sido criados não podiam secretar uma seda assim tão fina como a que o pintor pedira.
Os bichos-da-seda, tão cuidadosamente escolhidos, exigiam uma alimentação particularmente delicada, e as folhas da amoreira com que eram alimentados deviam ser seleccionadas com o máximo cuidado.
Apesar de todas as precauções, apenas alguns dos casulos sobreviveram.
Muito tempo decorreu até se conseguir um número suficiente de casulos para obter a quantidade de seda necessária para o biombo do imperador.
Mas, naquele momento, surgiu uma nova dificuldade: a seda era tão fina, que muito poucos tecelões se mostravam capazes de a tecer. Foi preciso apelar aos melhores artesãos do império.
Por fim, ultrapassou-se esta dificuldade e a seda destinada ao biombo acabou por ser tecida. Não havia memória de uma seda tão fina. O imperador ordenou que fosse pregada numa moldura de marfim.
Concluído o trabalho, o imperador enviou um mensageiro avisar o pintor de que a seda estava tecida e de que devia sem demora pintar os dragões.
O pintor pediu ao mensageiro que dissesse ao imperador que ainda não tinha acabado de preparar o seu trabalho e pedia-lhe que esperasse.
O imperador, que já tinha esperado muito tempo até ser tecida a seda, não escondeu a sua decepção, mas lá acabou por compreender que o pintor queria preparar uma obra-prima, e esperou. Contudo, sempre que passava diante do biombo, perdia a paciência.
Um dia, não aguentando mais, enviou um mensageiro para lembrar ao pintor a sua promessa. Este mandou dizer que, para aceder ao pedido do imperador, ainda não seria capaz de pintar dragões dignos do mais belo biombo algum dia visto. Precisava, dizia ele, de continuar com os seus ensaios e pediu um novo prazo.
O imperador, apesar da impaciência, não teve outro remédio senão esperar. Mas o tempo ia passando e o pintor não dava sinais de vida. E, sempre que o imperador passava diante do biombo inacabado, sentia crescer a sua irritação.
Um dia, no limite da paciência, enviou um mensageiro, ordenando-lhe que trouxesse o pintor à corte, a bem ou a mal.
O pintor aceitou finalmente acompanhar o mensageiro.
Quando chegou diante do imperador, disse-lhe que já se sentia capaz de pintar os dragões. O imperador manifestou a sua alegria.
O artista mandou que lhe trouxessem tinta amarela, tinta azul e dois grandes pincéis, e aproximou-se do biombo.
De uma pincelada, fez um traço amarelo; depois, outra pincelada, e fez um traço azul.
Em seguida, pousou os pincéis e declarou que o trabalho estava concluído.
Mal soube da notícia, o imperador, feliz por pensar que o mais belo biombo alguma vez visto iria finalmente ornamentar a sala do trono, precipitou-se para admirar a obra de tão célebre pintor.
Quando chegou diante do biombo, nem acreditava no que os seus olhos viam: apenas dois traços grossos, um azul e outro amarelo.
Convencido de que o pintor tinha querido troçar dele, ficou furioso. Com toda a calma e um ar muito sério, o pintor disse que aqueles dois traços eram fruto de longos estudos levados a cabo durante anos e anos.
Fez uma vénia e quis retirar-se. Mas o imperador, fora de si e sempre convicto de que o pintor fizera uma brincadeira de mau gosto, que tinha estragado irremediavelmente a maravilhosa seda cujo fabrico levara tanto tempo e tinha exigido tanto cuidado, mandou prendê-lo.
O imperador estava de tal modo encolerizado, que não pregou olho naquela noite. Na escuridão, os dois traços, o azul e o amarelo, passavam e voltavam a passar diante dos seus olhos. Quando fechava as pálpebras, iam e vinham e pareciam ganhar dimensão e mover-se. Para seu grande espanto, aqueles dois traços transformavam-se em dragões a lutar. E os dragões eram rápidos e possantes. O que mais o surpreendeu, é que pareciam ter vida e mover-se, eram leves e fortes ao mesmo tempo, e aquela força, aquele poder e aquela grandeza e leveza estavam resumidas nos dois traços que o pintor tinha traçado na maravilhosa seda.
Depois de uma noite em branco e de ter admirado os dois dragões que o pintor simbolizara, o imperador decidiu ir descobrir o segredo do artista que tinha conseguido uma tal obra-prima.
De madrugada, mandou selar o cavalo e, acompanhado pela sua guarda de honra, partiu em direcção à gruta onde o pintor trabalhara muitos anos antes de pintar os dois dragões no biombo.
A tempestade dificultou-lhes o caminho; a neve, o vento e o nevoeiro obrigaram-nos a voltar atrás. Mesmo assim, o imperador ordenou que se fizessem de novo ao caminho. Ao fim de vários dias e noites de viagem, chegaram à gruta do pintor. Acenderam as tochas. Ao entrar, o imperador viu dois dragões pintados nas paredes: um era azul e o outro amarelo.
Estavam desenhados com a maior exactidão, distinguia-se cada escama, cada dente, e as narinas lançavam fogo. Cada pormenor era azul e amarelo.
Por baixo da pintura estava uma data: a do dia em que o imperador tinha pedido ao pintor para começar a pintar o mais belo biombo alguma vez visto.
Ao lado desta pintura, uma outra, a de dois dragões, um azul e outro amarelo. Ao lado desta segunda pintura, uma terceira, depois uma quarta, uma quinta, uma sexta…
Todas as paredes da gruta estavam cobertas de pinturas que representavam dois dragões, um azul, outro amarelo. Todas as imagens estavam datadas, ano após ano.
À luz das tochas, o imperador não conseguia despregar os olhos do trabalho árduo do pintor.
As imagens sucediam-se às imagens, os esboços aos esboços.
Mês após mês, o pintor ia simplificando a pintura dos dois dragões, um azul e outro amarelo. Depois de uma longa sequência de dragões, o pintor traçara finalmente nas paredes da gruta os dois traços, um azul, outro amarelo, que pintara no biombo.
Naquelas duas últimas imagens estava resumida toda a potência dos inúmeros dragões que o pintor desenhara durante muitos anos nas paredes da gruta.
O imperador reconheceu os dois dragões do biombo e deu-se conta de que as duas últimas imagens não podiam de modo nenhum comparar-se às que as precediam.
Ao olhar para as pinturas, o imperador começou por ficar admirado, depois foi ficando cada vez mais alegre, até sentir, no final, um imenso júbilo.
Depois de ter observado por uma última vez os dois traços azul e amarelo, deu ordem imediata de selar os cavalos, pois queria regressar à capital. Tinha pressa de mandar libertar o pintor para o honrar e lhe agradecer, porque este lhe tinha permitido compreender o poder e o significado dos dois traços, um azul, outro amarelo, que simbolizavam os dois dragões.
O pintor foi posto em liberdade e o imperador mandou colocar o biombo dos dois dragões na sala do trono.
Ré e Philippe Soupault Dragon bleu — Dragon jaune
Paris, Père Castor Flamarion, 1995
Texto traduzido e adaptado

Poema Eros e Psiquê
Fernando Pessoa

    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.


    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.


    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera,
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.


    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado,
    Ele dela é ignorado,
    Ela para ele é ninguém.


    Mas cada um cumpre o Destino
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.


    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora,

    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.


                             








































sexta-feira, 17 de março de 2017

48° dia - Arquétipos estruturantes

Teresópolis, 17 de março de 2017.




Hoje, no curso de Formação em Arteterapia, Silvia Rocha deu uma aula sobre os Arquétipos Estruturantes de Jung.
Após a apresentação do conteúdo(persona, sombra, ânima e ânimus, self, herói, puer/senix), Silvia nos contou dois contos da mitologia indígena Kaxinawá ou Huni Kuin: o mito de Yuban e o conto de Siriani.  Ao final propôs que fizéssemos um desenho com a imagem de nosso ânimus.
Concebi essa imagem de forma muito intuitiva. A primeira mudança que observei foi na escolha de trabalhar com o papel na posição vertical, até então sempre trabalhei com o papel na posição horizontal ou paisagem.
Primeiro tracei o perfil do homem. Interessou-me sua expressão e percebi que era o mesmo nariz de outra imagem do meu Ânimus que moldei no curso de Introdução à Arteterapia. Na escultura de argila surgiu a imagem de um rabino e agora veio um mago.
A impressão que tenho é a de que os homens têm a mesma origem: inglesa.
O mago segura uma escritura. Os luminares estão presentes na imagem. O Sol se sobrepõe à Lua em tamanho e expressão. A Lua recebe em sua concha crescente a imagem de uma estrela. Bom presságio.
Há uma cálice. Imagem feminina. Atribuí a mim mesma a imagem desse cálice. Do Sol caem pequenas gotas de energia para dentro do cálice onde há uma substância lilás. Essa substância volátil sai do cálice e vai até a boca do mago, ou vem da boca do mago para o cálice. Há uma simbiose, uma troca de energia entre o mago e o cálice.
O mago usa um manto verde que remete à cura.
Do seu peito se expande uma luz dourada, como os raios solares da imagem.

quinta-feira, 16 de março de 2017

47° dia - Jeremias - conto


Teresópolis, 16 de março de 2017

A belíssima música Romaria sempre mexeu muito comigo. A escutava e imaginava histórias...

É muito legal buscar inspiração em imagens para exercitar a escrita criativa. Há alguns anos aprendi essa técnica no curso on line Terapia da Palavra. Um curso excelente que recomendo.

Esse é o primeiro conto que escrevo inspirada numa letra musical. E que letra! Que responsabilidade!

Com vocês, meu caipira Jeremias.


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A medida que o elevador descia pelo buraco estreito e fundo, a luz do dia tornava-se um pequeno ponto esmaecido e distante.

Todo dia era tudo igual. As três e meia Jeremias levantava pegava sua caneca de alumínio amassada e encardida. Colocava três dedos de Corote, sua bebida e principal refeição nos últimos cinco anos. Fechava os olhos e devaneava. Pensava em Emerinda. Como estaria ela agora? Sempre que pensava em Emerinda conseguia ver seu rosto. Somente o rosto. E o sorriso no rosto. Sorriso de gente sincera. Um grande diastema enfeitava o sorriso sincero de Emerinda. O cabelo? Como era mesmo o cabelo?
Jeremias já não sabia mais se era curto, liso ou crespo. A única coisa que ele sabia era do sorriso sincero. A grande janela entre os dentes brancos. Essa memória era tão boa que ele conseguia até sentir o cheiro de café da boca de Emerinda. O café que ele não tomava mais.
Mas ele não tinha só lembrança boa não. Logo a vista turvava e ele via o que não queria ver. A imagem do cavalo negro. Lindo. Mangalarga. Fugido à galope da fazenda do Sinhô Amadeu. Num galope selvagem, o mais selvagem que ele jamais vira. O puro sangue atropelou Emerinda, que não tinha sangue puro como o cavalo do Sinhô. Era fraca a Emerinda. Prenha estava do seu único filho que não vingou. Chegou mesmo a nascer. Morto. Ainda teve Jeremias que pagar o enterro dos dois. Pegou empréstimo com Sinhô Amadeu. Um ano inteirinho de trabalho na lavoura. Sol a Sol. Pagou tudo e sumiu na vida. O pouco que sobrou jogou. Perdeu. Ganhou. E perdeu de novo. Foi aí que conheceu a branquinha. Ele gostava da branquinha. Fazia esquecer de tudo. Pena que ele estava esquecendo até do cabelo de Emerinda.
Há léguas desse tempo. No tempo presente chegou Jeremias às Minas. As Gerais. Lugar bonito. Cheio de verde. E de fortuna. Jeremias buscou uma mina para cavar a rocha. Ficou longe das fazendas. Longe dos cavalos. O pouco que ganhava pagava sua pinga.
E devagar passavam os dias. Um dia na mina era igual a noite. A noite fora da mina era mais clara que a luz do dia na mina. E Jeremias nada via. Dia ou noite. Era tudo igual. A aguardente girava na cabeça. Girava mundo. E os dias passavam mais devagar ainda.
Outro dia. Três e meia. Como de costume pegou a caneca de alumínio encardida. A Corote estava vazia. Partiu para a mina sozinho sem a branquinha. Tudo estava diferente. O elevador descia e a luz aumentava. Esfregou os olhos. A luz ofuscou. Jeremias nada entendeu. De onde vem tanta luz, sô!
Chegou no final do buraco fundo. Pegou sua pequena picareta e seguiu a luz. Ninguém o seguiu. Sentou-se no chão e bateu na pedra. Bateu. E bateu. E bateu. Entrou em transe. De fome e de sede. O transe da abstinência. Bateu na pedra de olhos fechados. E com os olhos fechados viu Maria. Sim, a Virgem. Ela apontou a direção. Jeremias levantou-se deu três passos e bateu na rocha. E bateu. E bateu. E de novo. E outra vez.
Uma luz mais forte e brilhante surgiu. Um pequeno ponto. Muito brilhante. Ele segurou pela primeira vez um diamante. Enfiou no bolso. Bateu na rocha. De novo. E de novo. E outra vez. Uma pepita de ametista saltou na sua mão. Levou pro patrão. E correu. Correu léguas. Foi pra longe. A pé e feliz.
Na cidade grande trocou seu diamante. Comprou camisa, sapato e terno de missa. Se curou do medo da morte. Comprou um cavalo marrom. Bonito de crina preta. Montado nele foi com rumo certo. Ao encontro de Maria. Sim, da Virgem. Gratidão, era seu nome agora. Jeremias Gratidão.
Chegou em Aparecida. Lugar da aparição de Maria. Sim, da Virgem. Outra Maria apareceu. Com um sorriso sincero. Uma grande janela no sorriso. Cabelos cor de mel, olhos de cobra. Enfeitiçou.

Agora Jeremias tem pouso certo. Tem família. Café com pão. E criança arrodeando ele. E cavalo bonito. Não tem medo. Só gratidão.






É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló
Dessa vida cumprida a sol
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
O meu pai foi peão, minha mãe, solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Me disseram, porém, que eu viesse aqui
Pra pedir em romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida
Sou caipira, Pirapora nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida


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