sábado, 17 de fevereiro de 2018

6° dia - Meditação

Teresópolis, 17 de fevereiro de 2018


Há cerca de três dias consegui retomar a meditação e o Sudarshan Krya. Hoje, especialmente, senti um grande bem estar com as práticas. 

Tive a sensação de me ver, fora do meu corpo. Nessa visão me enxerguei, exatamente como estava durante a meditação, na posição Gyam Mudra, o mudra da paz e sabedoria interior.  Além da visão das mãos percebi um luz violeta pulsante.

Ao terminar a meditação senti a necessidade de colocar no papel esse momento especial. Entendi que não posso viver sem a meditação, e quando não cumpro meus rituais diários fico totalmente entregue ao desânimo e às doenças do corpo e da alma.






5° dia - Antígona a caminho do exílio

Teresópolis, 17 de fevereiro de 2018



Hoje dei continuidade ao entendimento do mito de Antígona com o mesmo processo utilizado no trabalho anterior "Antígona e eu".

Escolhi a obra Oedipe & Antigone, de Charles François Jalabert, onde foi retratado o momento em que a heroína deixa Tebas na companhia de Édipo sob olhares acusadores. Antigona enfrenta a vergonha e apoia o pai rumo ao exílio.

Com uma folha A4 fiz um pequeno furo e passei pela pintura em busca de uma cena que chamasse minha atenção. Parei na mão com o dedo acusatório da mulher que está sentada no chão do lado direito da tela. 

Iniciei meu trabalho a partir dessa mão. Surgiram setas e outros dedos apontando para Antígona. No centro do trabalho ela surge com olhar firme e decidido, demonstrando que ela não se deixou abater pela opinião alheia.

Interessante notar que a partir do dedo acusador da mulher da pintura dei forma a um mestre, um mentor que surgiu das águas profundas do inconsciente de Antígona. 

Os dedos e as setas ganharam então um novo significado. Em lugar da vergonha os dedos apontam para uma mulher forte, altiva, que cumpriu sua missão. O mito tornou-se um arquétipo do inconsciente coletivo da humanidade.

Por último e coroando a atitude de Antígona desenhei, no alto de sua cabeça, um escaravelho alado segurando o disco solar, símbolo da ressurreição e da sabedoria divina.





Oedipe & Antigone, de Charles François Jalabert.








Antígona e um mestre que surge das águas profundas do seu inconsciente.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

4° dia - Antígona e eu

Teresópolis, 06 de fevereiro de 2018



Desenho 1
Um dos últimos trabalhos solicitados no curso de formação foi a leitura simbólica de um conto ou mito.
Escolhi o mito de Antígona, filha de Édipo e Jocasta.
Minha única referência até então fora o curta "Antígona - a mulher que disse não", um dos episódios da série francesa Grandes Mitos Gregos.  Com apenas 26 minutos o filme demonstrou a força do mito capturando-me pela atitude da filha de Édipo que rompeu com as leis dos homens em favor das leis divinas.
Depois de assistir o curta li a tragédia de Sófocles e textos de outros autores para escrever o trabalho que foi publicado nesse blog dia 29 de janeiro último.

Após retornar a Tebas Antígona encontra uma cidade arrasada pela destruição e seus dois irmãos mortos. Seu tio Creonte, agora governador de Tebas, proíbe que o sobrinho Polinice receba os ritos fúnebres condenando à morte quem o desobedecesse.
Desenho 2


Antígona não se conforma com a lei que puniria seu irmão a vagar eternamente pelo Tártaro.  Rebela-se e joga um punhado de terra sobre seu corpo. É condenada à morte pelo próprio tio e futuro sogro.

A fraternidade foi um dos aspectos que me tocou nesse mito. Em relação a esse tema encontrei um paralelo interessante no meu mapa astrológico com a posição do planeta Quíron e sua respectiva simbologia.


Quíron era um centauro, metade homem, metade cavalo. Em uma das versões do mito, ele se dedicava a curar outros centauros. Um dia, ao tentar curar um centauro que fora atingido por uma flecha envenenada feriu-se e tornou-se, depois disso, o curador ferido, capaz de encontrar cura para os outros menos para si. 


No meu mapa natal Quíron encontra-se no signo de Aquário, posição em que o "curador ferido" busca sua cura participando de grupos, confrarias, associações e fraternidades, entretanto encontrar esse lugar com os "meus" iguais tem sido um grande desafio e aprendizado.



Além da fraternidade outras questões me tocaram profundamente: o respeito ao sagrado, às leis divinas e a certeza de Antígona com relação à sua missão. Certa do seu destino a heroína demonstrou segurança para transgredir a lei e enfrentou a morte com altivez. Entendi todo esse processo como sendo seu caminho de individuação.

Na última sessão de terapia Vanda pediu que eu pesquisasse pinturas clássicas que retratassem o mito de Antígona, fizesse cópias e as trouxesse no próximo encontro.  

O trabalho proposto por Vanda foi interessantíssimo e expandiu meu entendimento sobre "minha escolha" por esse mito. Primeiramente fui orientada a escolher uma das imagens que levei.  Elegi a obra de Marie Spartali Stillman, uma bela pintura retratando o momento em que Antígona joga a terra sobre o irmão. A seu lado está sua irmã Ismênia que recusa-se a ver a cena que causará a morte da irmã querida.

Antígona de Marie Spartali Stillman 
(imagem em http://moorewomenartists.org/mariespartali-stillman/)

Em seguida peguei uma folha A4 e,manualmente, fiz um pequeno buraco aproximadamente do tamanho de uma moeda de 25 centavos. Através dessa "lupa" percorri a pintura procurando um ponto que chamasse minha atenção. Detive-me na mão jogando a terra. Momento simbólico e ápice da história. Numa folha A3 reproduzi essa imagem a partir da qual iniciei o trabalho expressivo. Vanda orientou-me a colorir de forma a ocultar o traço inicial escolhido na "lupa".


Assim surgiu o desenho 1. A medida em que fui desenvolvendo o desenho senti a necessidade de expandir os cabelos de Antígona em longas tranças que emolduram a imagem. 

A força dos cabelos é um tema mítico presente em vários contos e religiões. Os cabelos da deusa egípcia Isis tinham o poder de proteger e devolver a vida. Sansão, ao ter os cabelos cortados, perdeu sua força e virilidade. Cabeças raspadas de monges simbolizam a renúncia aos prazeres terrenos.


Crenças antigas sobre os cabelos diziam que, mesmo depois de cortados, mantinham uma ligação com seu dono. Por essa razão guardam-se mechas dos cabelos de pessoas amadas como uma forma de prolongar sua presença.   



No contexto do meu trabalho entendi o cabelo como uma força vital que expandiu-se no momento em que Antígona derramou a terra sobre o corpo do irmão. 

A terra foi pintada num tom amarelo alaranjado representando a numinosidade do gesto de Antígona. A transgressão às leis dos homens e a salvação da alma de Polinice.

As tranças, além de emoldurarem o desenho, criaram uma espécie de tubo onde se pode vislumbrar energias transmutando-se do verde claro ao  vermelho. Rubedo representa o estágio alquímico relacionado à iluminação. A partir do rubedo dou continuidade ao trabalho expressivo em um segundo desenho conforme orientação de Vanda.


No desenho 2 as tranças continuaram seu caminho e ganharam um tom espiritualizado com a cor lilás. Surgiu a imagem do ânimus da heroína. Um monge. O chakra correspondente à terceira visão está ativado. Tudo pulsa dentro dessa segunda imagem. Vermelho e dourado dominam a cena. Uma das tranças curiosamente transformou-se num feto. Novas possibilidades.

Antígona alcançou um estado búdico a partir da aceitação de sua missão. Em linguagem junguiana individuou-se.

  
Fazer um trabalho de imagem integrado ajudou-me a entender o que me fascinou nesse mito. Ver as duas imagens juntas deu a dimensão do valor dessa heroína grega que entrou para a história e tornou-se um arquétipo da fraternidade, do amor e do respeito às tradições espirituais.

Desenho 3




segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

3° dia - O mito de Antígona

Teresópolis, 29 de janeiro de 2018



Cláudia Brasil solicitou ao grupo de formação que fizéssemos a leitura simbólica de um conto ou mito.  Fui atraída para Antígona após assistir um curta de animação da série Grandes Mitos Gregos. O amor da heroína pelo irmão, seu respeito ao sagrado e sua transgressão são pontos de destaque dessa tragédia que tornou-se um arquétipo universal. Abaixo o trabalho apresentado.


Curso de Formação em Arteterapia - Cláudia Brasil Ateliê

Interpretação simbólica do mito Antígona
janeiro/2018


Sandra Pinto










"Os mitos, afinal de contas, são histórias que contamos repetidamente e não podemos esquecer. Eles exercem grande influência sobre nossa vida e têm também uma vida própria, rica e duradoura. Quando ouvimos descobrimos que eles podem conduzir-nos a um maior autoconhecimento e até a uma transformação e nós mesmos." 



James P Carse 


Antígona de Sófocles - síntese da tragédia 


Antígona é filha de Édipo e Jocasta e teve como irmãos Ismene, Etéocles e Polinice. Édipo, após descobrir que estava casado com sua mãe perfura os próprios olhos e parte para o exílio na companhia de sua fiel filha "irmã" Antígona. 

Ao chegarem a Colono, na Ática, Édipo morre e Antígona regressa a Tebas, onde uma nova tragédia espreita os descendentes do rei Lábdaco. 

Com o banimento de Édipo o reino de Tebas ficou a cargo dos seus filhos, Etéocles e Polinice que acordaram reinar a cidade em anos alternados. Coube a Etéocles governar o primeiro ano, mas ao fim do período recusou-se a entregar o governo ao irmão. Tem início uma grande guerra entre Etéocles e Polinice, e seus respectivos seguidores. Após muito derramamento de sangue os irmãos resolvem lutar entre si e matam um ao outro. 

Creonte, irmão de Jocasta, assumiu o governo de Tebas. Por considerar Polinice um traidor decretou a proibição dos ritos fúnebres ao sobrinho conferindo pena de morte a quem o desobedecesse. 

Antígona, inconformada, ergue-se a favor do respeito às leis divinas. Desobedece a ordem do tio e futuro sogro, e derrama terra sobre o irmão morto libertando sua alma em sua passagem para o Tártaro. 

Em represália Creonte ordena que Antígona seja enterrada viva, dentro de uma gruta sem comida e água. Seu noivo Hêmon, filho de Creonte, se mata. Eurídice mãe de Hêmon ao saber da morte do filho também comete suicídio. 

Diante do desfecho trágico Creonte adquire consciência sobre seus atos e retira-se ao seu palácio. 

Repercussão do mito 


441 ac. Acrópole. Atenienses reunidos assistem, pela primeira vez, a encenação do mito de Antígona. Qual terá sido o impacto do texto nos conterrâneos de Sófocles? Ao expressar em suas tragédias questões sobre a dor e o sofrimento humanos, Sófocles ajudava a moldar o cidadão da polis sobre a obediência às leis e à construção da democracia. 

"Sófocles propõe normas que comporiam o homem ideal para a polis democrática. E, em um exercício premeditado, no uso da razão, coloca o respeito e a obediência como características fundamentais na educação do homem da polis." (CZADOTZ, p.13) 

Em 1580, Robert Garnier escreve uma peça baseada no mito com o título Antigone ou La Piété (Antígona ou a piedade). Nesse momento a dedicação familiar é enaltecida. 

No século XX, em 1922, Jean Cocteau, anarquista convicto, encena Antígona conferindo-lhe um viés transgressor. Tem como colaboradores Picasso e Artaud, dentre outros. Reduz o texto de Sófocles pela metade e apresenta aos parisienses uma Antígona provocadora. Em carta datada de 1926 a Jacques Maritain confessa: "O instinto me empurra sempre contra a lei. Essa é a razão secreta pela qual traduzi Antígona". 

Vinte anos mais tarde Antígona sofre uma releitura e ganha um caráter nacionalista, bem ao gosto da juventude do marechal Pétain. Em 1941, León Chancerel apresentou o mito ressaltando os valores da "Revolução Nacional" e o público compreendeu que a filha de Édipo encarnava os valores contra o invasor nazista. Três anos depois Anouilh cria uma nova peça onde os valores de Creonte são ressaltados justificando as atitudes de Petáin e o regime de Vichy. Mas a força do mito se revelou e os espectadores só tiveram olhos para Antígona e sua resistência. 

A partir da segunda Guerra Mundial a tragédia ateniense foi remontada por grandes e pequenas companhias teatrais, apresentada nos grandes centros urbanos e em pequenas cidades, em universidades, enfim, pelo mundo afora. Há centenas de versões da peça. Filósofos, juristas, artistas plásticos, autores, psicólogos, pensadores nas mais diversas esferas revisitam o mito conduzindo-nos a uma reflexão sobre a transgressão, a fraternidade e o amor. 


Antígona e o arquétipo da fraternidade 


O termo fatria, usado na Grécia antiga designava cada um dos grupos em que se subdividiam as tribos atenienses. 

Na tragédia de Sófocles a fraternidade nos é apresentada em seus opostos: luz e sombra. De um lado a rivalidade entre Polinice e Etéocles, de outro o amor de Antígona por Polinice. Emoções antagônicas girando a roda da fortuna em direções opostas. 

Em defesa do valor fraterno nos diz Antígona: 

"Fosse eu casada e meu esposo falecesse, bem poderia encontrar outro, e de outro esposo teria um filho se antes eu perdesse algum; mas, morta minha mãe, morto meu pai, jamais outro irmão viria ao mundo". (Barcellos, p.30) 

Segundo Barcellos a função fraternal em nossas vidas, faz parte da atividade mitologizante da pisque. O relacionamento com o irmão constrói a fundação emocional para os relacionamentos horizontais de intimidade que estabelecemos na vida adulta. É com eles que aprendemos a nos relacionar. 

Em sua análise do arquétipo do irmão Barcellos utiliza a Astrologia como elemento simbólico para a compreensão das relações de paridade. O elemento Ar presente nas casas de relacionamento nos remete ao caminho paradoxal das experiências humanas com o outro. 

Interessante ressaltar que no diálogo entre Creonte e um guarda é um sopro de vento (Ar), uma celeste turbulência que irá revelar a transgressão cometida por Antígona. 

"Creonte 

E como a viram e pilharam em delito? 

Guarda 

O fato aconteceu assim: quando voltamos, com aquelas tuas ameaças horrorosas pesando sobre nós, tiramos toda a terra que recobria o corpo e cuidadosamente despimos o cadáver meio decomposto; então nós nos sentamos no alto da colina tendo a favor o vento para que o fedor não viesse contra nós. Estava cada um bem acordado e se esforçava por manter alerta o seu vizinho com descomposturas se alguém se descuidasse da tarefa dura. Assim passou o tempo até que o sol brilhante chegou a meio céu em sua caminhada e começou a nos queimar com seu calor; nesse momento um vento repentino e forte soprou em turbilhão - celeste turbulência - pela campina toda, desfolhando as árvores das redondezas. O ar em volta escureceu e para suportar o flagelo divino tivemos de fechar os olhos. Ao cessar aquilo, muito tempo após, vimos a moça; ela gritava agudamente, como um pássaro amargurado ao ver deserto o caro ninho, sem suas crias. Ela, vendo o corpo nu, gemendo proferiu terríveis maldições contra quem cometera a ação; amontoou com as mãos, de novo, a terra seca e levantando um gracioso jarro brônzeo derramou sobre o cadáver abundante libação". 

Gêmeos, terceira casa zodiacal, representa o irmão propriamente dito. O modo como vivenciamos o relacionamento com o irmão vai repercutir na forma como iremos lidar com nossas parcerias representadas por Libra, a sétima casa. Relações de mutualidade e reciprocidade. As parcerias com as quais podemos dividir nossos anseios. 

Após passar por Libra o sol, em seu caminho zodiacal, entra no signo de Aquário instalando-se na décima primeira casa. Aqui vivenciamos a expressão dos nossos encontros com os iguais. É a casa dos grupos, das organizações, das associações, dos amigos. O lugar de pertencimento dos camaradas, dos iguais. 

Ao defender um enterro honroso para o irmão Antígona defende o respeito às leis divinas, à ancestralidade e aos valores femininos. Defende o que lhe é igual. 


Antígona transgressora 


Etimologicamente Antígona significa: anti = diante de + goné = nascimento ou origem. Aquela que se coloca adiante de sua família ou do meio em que vive. 

Ao insubordinar-se às leis dos homens transgride a ordem vigente patriarcal representada por Creonte, certa de sua posição de defensora das leis divinas que eram anteriores às leis criadas na terra. 

Ao manter a pena de morte de sua futura nora, Creonte na verdade está tentando manter seu poder. Em sua justificativa para o filho Hêmon, argumenta: 

"Aquele que na própria casa é cumpridor de seus deveres, mostrar-se-á também correto em relação ao seu país. Se alguém transgride as leis e as violenta, ou julga ser capaz de as impingir aos detentores do poder, não ouvirá em tempo algum meus elogios; muito ao contrário, aquele que entre os homens todos for escolhido por seu povo, dever ser obedecido em tudo, nas pequenas coisas, nas coisas justas e nas que lhe são opostas. Estou seguro de que esse homem obediente será bom governante como foi bom súdito e na tormenta das batalhas ficará firme no posto, agindo como companheiro bravo e leal. Mas a anarquia é o mal pior; é perdição para a cidade faz desertos onde existiam lares; ela é causadora de defecções entre as fileiras aliadas, levando-as à derrota. A submissão, porém, é a salvação da maioria bem mandada. Devemos apoiar, portanto, a boa ordem, não permitindo que nos vença uma mulher. Se fosse inevitável, mal menor seria cair vencido por um homem, escapando à triste fama de mais fraco que as mulheres!" . Sófocles (750). 

O paradoxo em Antígona é que ao mesmo tempo em que ela defende o antigo, ou seja, a manutenção das leis familiares e divinas contra as novas leis da Cidade-Estado, transgride a ordem vigente valorizando o feminino trazendo uma nova visão. 

Creonte, por outro lado, ao cumprir as leis civis, em detrimento das leis da tradição, tem como resultado a destruição da sua própria família, que se encerra com a morte de seu filho e sua mulher. Ao final compreende que lhe faltou a prudência. 

CORO - acompanhando a lenta retirada de Creonte. 

Destaca-se a prudência sobremodo como a primeira condição para a felicidade. Não se deve ofender os deuses em nada. A desmedida empáfia nas palavras reverte em desmedidos golpes contra os soberbos que, já na velhice, aprendem afinal prudência." (Sófocles, 1485). 


Antígona e as ordens do amor 


A casa real de Tebas tinha um passado sombrio que iniciou mesmo antes de Édipo. A família foi atormentada por várias maldições, simbolizando a família disfuncional e desestruturada. 

Antígona surge como redentora. Com seu poder de amar foi capaz de vencer uma herança psicológica de destrutividade; ela redimiu o passado e conseguiu escrever um novo futuro aos descendentes de Lábdaco. 

"O poder do amor humano na família é capaz de resistir até a uma herança psicológica de grande destrutividade, redimindo o passado e refazendo o futuro." (Greene, p.37) 

A forte personalidade de Antígona, sua altivez e segurança certamente vem da consciência de sua missão. Hellinger nos fala sobre o sentimento de predestinação pessoal, de vocação ou missão. 

"Isso toca bem profundamente o cerne da pessoa e está além da consciência. Quem está em harmonia com isso sente-se em paz.
(Hellinger, p. 49) 

Essa paz é transmitida na tragédia de Sófocles quando Antígona aceita de bom grado a morte infame. Vem da certeza de estar cumprindo a sua missão para com o seu clã. Ao lutar pelo respeito às leis divinas que foram transgredidas por seus antepassados ela restabelece a ordem de sua família. É quando se dá sua káthasis (purificação). 

Antígona 

"Nasci para compartilhar amor, não ódio". Sófocles (595) 

Conclusão 


Ao buscar em si mesmo as respostas para seus anseios e dúvidas o homem contemporâneo depara-se com suas fragilidades e encontra no "homem trágico" a possibilidade de compreender-se por meio dessas tragédias. 

As personagens dessas tragédias saltaram dos textos e transformaram-se em mitos que nos influencia, quer tenhamos consciência de suas presenças ou não. 


As diversas encenações de Antígona ao longo dos séculos demonstra-nos essa influência. A força dos arquétipos revelados nessa tragédia inseriu-se na memória da humanidade elevando a consciência de diversas gerações. 


Fraternidade, transgressão às normas vigentes, valorização do feminino, consciência da nossa missão única e o restabelecimento das ordens de amor familiares são alguns alguns dos legados de Antígona que podem manifestar-se em nossas histórias pessoais. 


Referências 


SÓFOCLES. Antígona. Rio de Janeiro: Zahar, 1989 [Tradução de Mário da Gama Kury]. Kindle. 


Bibliografia 


BARCELLOS, Gustavo - O irmão: psicologia do arquétipo fraterno. Petrópolis: Vozes, 2010. 
BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário Mítico-Etimológico. Petrópolis: Vozes, 2014 
BRUNEL, Pierre. Dicionário de mitos literários. Rio de Janeiro: Ed José Olympo Ltda, 2000. [Tradução de Carlos Sussekind et al] 
CZADOTZ, Regina Celia Rampazzo e MELO, José Joaquim Pereira. Para além do mito a razão: uma análise da trilogia tebana de Sófocles. Anais da Jornada de Estudos Antigos e Medievais. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2013 
GREENE, Liz e SHARMAN-BURKE, Juliet - Uma viagem através dos mitos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. 
HELLINGER, Bert. Constelações familiares - o reconhecimento das ordens do amor. São Paulo: Cultrix, 2007. [Tradução de Eloisa Giancoli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter] 


Sites de pesquisa 

http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2011/09/antigona-e-creonte-aprendendo-com.html em 29/01/2018 





segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

2° dia - O antídoto da procrastinação

Teresópolis, 8 de janeiro de 2018.


Hoje o tema da sessão de arteterapia foi procrastinação. Adiando o inicio de um trabalho percebi a minha auto sabotagem e comentei com Vanda. Ela propôs um trabalho de colagem com esse tema. Folheei uma revista e logo encontrei uma imagem que coroou o trabalho. Engrenagens coloridas mostram como a mente "colore" com muitas justificativas o adiamento das tarefas.


Após terminar a colagem Vanda orientou-me a buscar imagens antídotos e que eu fizesse uma  nova colagem no verso. A luz surge quando realizo meu trabalho. Recompensas. Flores. Cores. Trabalhos artísticos realizados.

Além do trabalho expressivo Vanda sugeriu que eu escrevesse num papel uma data para o término da tarefa que eu não estava conseguindo realizar. Determinei 25 de janeiro como limite para a realização. Dia 23 de janeiro concluí minha tarefa.



sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

1° dia - Pés

Teresópolis, 5 de janeiro de 2018.

Estou fazendo tratamento para a coluna com um médico especializado em medicina chinesa. Na sessão de terapia dessa semana comentei com  minha terapeuta, Vanda Viola, que quando o médico massageia meus pés sinto um grande bem estar. 

A partir dessa informação fizemos um trabalho expressivo diferente. Vanda contornou meus pés e desenhei livremente. Alguns símbolos surgiram. Por sugestão de Vanda levei o trabalho para o médico ver.

Ele mostrou-me um mapa dos pés baseado no Do-in. Ficou impressionado por eu ter desenhado água no pé direito a partir do ponto conhecido como "portal das águas", e que corresponde aos rins.

No primeiro dedo do pé direito desenhei um Sol. Curiosamente os órgãos relacionados são as glândulas pineal e pituitária. Pequenas ondas vermelhas no ponto do ouvido. Outras ondas verdes correspondentes a traquéia que leva o ar aos brônquios e pulmão.

No pé esquerdo surgiu uma pequena pirâmide, além de uma cobra que percorre todo o pé a partir do primeiro dedo. Sua cabeça está localizada no ponto relacionado às glândulas pineal e pituitária.

Pesquisando a respeito do simbolismo dos pés encontrei fato curioso sobre a cultura egípcia. As principais pinturas e esculturas de deuses e faraós egípcios mostram sempre o pé esquerdo à frente do direito. Os egípcios acreditavam que o lado esquerdo era o lado espiritual, enquanto que o lado direito era o lado material. Por esse motivo, as coisas tidas como sagradas eram feitas com o pé e mão esquerda. A representação do primeiro passo, um passo espiritual para uma nova vida, continuou sendo observada nas instituições tradicionais, principalmente em suas cerimônias de iniciação, incluindo a Maçonaria.

No meu desenho o pé direito apresenta um acúmulo de água. As emoções são aí despejadas. Somatizações na coluna, fígado, genitais, rins, bexiga e no nervo ciático.

Esse trabalho demonstrou que o inconsciente sabe onde está localizada a dor, a somatização, e também o elixir.

Meu elixir está representado pela cobra verde, como a Uto deusa serpente do Egito ligada às forças regeneradoras da vegetação, manifestou-se no pé esquerdo, o pé espiritual. O recado aqui está bem claro: as práticas espirituais me darão o equilíbrio necessário para fazer escoar as emoções somatizadas no meu corpo.