Desenho 1
Um dos últimos trabalhos solicitados no curso de formação foi a leitura simbólica de um conto ou mito.
Escolhi o mito de Antígona, filha de Édipo e Jocasta.
Minha única referência até então fora o curta "Antígona - a mulher que disse não", um dos episódios da série francesa Grandes Mitos Gregos. Com apenas 26 minutos o filme demonstrou a força do mito capturando-me pela atitude da filha de Édipo que rompeu com as leis dos homens em favor das leis divinas.
Depois de assistir o curta li a tragédia de Sófocles e textos de outros autores para escrever o trabalho que foi publicado nesse blog dia 29 de janeiro último.
Após retornar a Tebas Antígona encontra uma cidade arrasada pela destruição e seus dois irmãos mortos. Seu tio Creonte, agora governador de Tebas, proíbe que o sobrinho Polinice receba os ritos fúnebres condenando à morte quem o desobedecesse.
Desenho 2

Antígona não se conforma com a lei que puniria seu irmão a vagar eternamente pelo Tártaro. Rebela-se e joga um punhado de terra sobre seu corpo. É condenada à morte pelo próprio tio e futuro sogro.
A fraternidade foi um dos aspectos que me tocou nesse mito. Em relação a esse tema encontrei um paralelo interessante no meu mapa astrológico com a posição do planeta Quíron e sua respectiva simbologia.
Quíron era um centauro, metade homem, metade cavalo. Em uma das versões do mito, ele se dedicava a curar outros centauros. Um dia, ao tentar curar um centauro que fora atingido por uma flecha envenenada feriu-se e tornou-se, depois disso, o curador ferido, capaz de encontrar cura para os outros menos para si.
No meu mapa natal Quíron encontra-se no signo de Aquário, posição em que o "curador ferido" busca sua cura participando de grupos, confrarias, associações e fraternidades, entretanto encontrar esse lugar com os "meus" iguais tem sido um grande desafio e aprendizado.
Além da fraternidade outras questões me tocaram profundamente: o respeito ao sagrado, às leis divinas e a certeza de Antígona com relação à sua missão. Certa do seu destino a heroína demonstrou segurança para transgredir a lei e enfrentou a morte com altivez. Entendi todo esse processo como sendo seu caminho de individuação.
Na última sessão de terapia Vanda pediu que eu pesquisasse pinturas clássicas que retratassem o mito de Antígona, fizesse cópias e as trouxesse no próximo encontro.
O trabalho proposto por Vanda foi interessantíssimo e expandiu meu entendimento sobre "minha escolha" por esse mito. Primeiramente fui orientada a escolher uma das imagens que levei. Elegi a obra de Marie Spartali Stillman, uma bela pintura retratando o momento em que Antígona joga a terra sobre o irmão. A seu lado está sua irmã Ismênia que recusa-se a ver a cena que causará a morte da irmã querida.
Antígona de Marie Spartali Stillman
(imagem em http://moorewomenartists.org/mariespartali-stillman/)
Em seguida peguei uma folha A4 e,manualmente, fiz um pequeno buraco aproximadamente do tamanho de uma moeda de 25 centavos. Através dessa "lupa" percorri a pintura procurando um ponto que chamasse minha atenção. Detive-me na mão jogando a terra. Momento simbólico e ápice da história. Numa folha A3 reproduzi essa imagem a partir da qual iniciei o trabalho expressivo. Vanda orientou-me a colorir de forma a ocultar o traço inicial escolhido na "lupa".
Assim surgiu o desenho 1. A medida em que fui desenvolvendo o desenho senti a necessidade de expandir os cabelos de Antígona em longas tranças que emolduram a imagem.
A força dos cabelos é um tema mítico presente em vários contos e religiões. Os cabelos da deusa egípcia Isis tinham o poder de proteger e devolver a vida. Sansão, ao ter os cabelos cortados, perdeu sua força e virilidade. Cabeças raspadas de monges simbolizam a renúncia aos prazeres terrenos.
Crenças antigas sobre os cabelos diziam que, mesmo depois de cortados, mantinham uma ligação com seu dono. Por essa razão guardam-se mechas dos cabelos de pessoas amadas como uma forma de prolongar sua presença.
No contexto do meu trabalho entendi o cabelo como uma força vital que expandiu-se no momento em que Antígona derramou a terra sobre o corpo do irmão.
A terra foi pintada num tom amarelo alaranjado representando a numinosidade do gesto de Antígona. A transgressão às leis dos homens e a salvação da alma de Polinice.
As tranças, além de emoldurarem o desenho, criaram uma espécie de tubo onde se pode vislumbrar energias transmutando-se do verde claro ao vermelho. Rubedo representa o estágio alquímico relacionado à iluminação. A partir do rubedo dou continuidade ao trabalho expressivo em um segundo desenho conforme orientação de Vanda.
No desenho 2 as tranças continuaram seu caminho e ganharam um tom espiritualizado com a cor lilás. Surgiu a imagem do ânimus da heroína. Um monge. O chakra correspondente à terceira visão está ativado. Tudo pulsa dentro dessa segunda imagem. Vermelho e dourado dominam a cena. Uma das tranças curiosamente transformou-se num feto. Novas possibilidades.
Antígona alcançou um estado búdico a partir da aceitação de sua missão. Em linguagem junguiana individuou-se.
Fazer um trabalho de imagem integrado ajudou-me a entender o que me fascinou nesse mito. Ver as duas imagens juntas deu a dimensão do valor dessa heroína grega que entrou para a história e tornou-se um arquétipo da fraternidade, do amor e do respeito às tradições espirituais.
Desenho 3
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