segunda-feira, 17 de julho de 2017

77° dia - Asas e raízes II

Teresópolis, 17 de julho de 2017


Nesse segundo trabalho da série "Asas e raízes" estão contempladas as amigas a mim conectadas por laços anímicos. 


Na base do trabalho a imagem de uma grande árvore com suas raízes esparramadas pela terra. O contorno da imagem lembra um coração de onde se ramificam outras raízes. Esse recorte não foi proposital. 


A Arteterapia é assim. Permite que o inconsciente se expresse livremente. Ele surge com força e comanda as curvas da tesoura no papel, dando forma àquilo que precisa ser simbolizado.


Logo acima desta árvore estamos eu eu mamãe. Estou com 12 para 13 anos, momento em que eu e Inês aprofundamos nossa amizade. Inês, meu grande amor, amiga que foi meu centro, meu degrau para todos os relacionamentos de minha vida adulta. 

Quando a conheci tive uma afinidade imediata com essa morena tímida, meio índia, amiga, charmosa, amante da música e dos esportes. Comunicativa e carismática, Inês tinha um grande círculo de amigos, que incluiu o saxofonista norte americano Bradford Marsalis.


Ela influenciou meu gosto musical, e me iniciou no The Police e Sting. Com ela desfrutei férias maravilhosas em Teresópolis. Na sua companhia fui ao Rock in Rio I e III. Na adolescência escrevíamos listas dos 100 homens mais bonitos da redondeza, onde incluíamos um atendente de um armarinho na rua Barão de Ipanema. Com ela tostei ao sol da praia de Copacabana. Por suas mãos conheci José Carlos, meu primeiro marido e pai de minhas filhas. Viajamos juntas. Passamos natais e reveillons juntas. Ela era madrinha da minha caçula.

Com meu casamento precoce precisei trabalhar antes de concluir meus estudos universitários. Assim que minha primeira filha nasceu fui trabalhar no Banco Real. Lá conheci dois rosacruzes que me apresentaram a Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz. Meu colega Lorival, e Alice Bentes, cliente que tornou-se minha amiga e mestra. Conhecê-los ajudou-me a materializar a escolha espiritual que estava latente em mim.


Por essas e por outras quando penso na Inês me vem à mente a teoria dos seis degraus para Kevin Bacon. A teoria originou-se de um estudo científico, a partir da hipótese de que, no mundo, são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. Em pesquisa no Wikipédia encontramos um exemplo sobre essa teoria:
Um resultado interessante pode ser visto num jogo para a Internet denominado Oráculo de Bacon (The Oracle of Bacon). O jogo, criado por Brett Tjaden, um cientista da computação da Universidade de Virgínia, e mantido, atualmente, por Patrick Reynolds mostra como um ator, no caso Kevin Bacon, se relaciona com os demais artistas, sejam de filmes americanos ou não. Para exemplificar, a atriz Fernanda Montenegro tem um número Bacon de 2, obtido da seguinte forma: ela atuou em O Amor nos tempos do cólera (2007) com Benjamin Bratt que atuou com Kevin Bacon em O Lenhador (2004). 

Minha amiga Maria Inês Bomfim Loureiro, Inês, foi meu degrau para todas as direções possíveis de minha vida. Foi em muitos sentidos meu anjo protetor e, mais além, atuou como uma sacerdotisa indicando-me os caminhos a percorrer, com seu exemplo e caráter sólido.

Por intermédio dela também conheci Lucely Moreira, minha irmãzinha de alma que aqui está retratada comigo do lado esquerdo do trabalho. Sou madrinha de sua filha Natália e considero toda a família Moreira, minha segunda família. Lucely é a amiga de todas as horas. Nossa afinidade transparece na forma como vemos a vida, em nossos valores. Passamos boa parte da adolescência juntas, experimentando nossos limites, ultrapassando-os e esborrachando-nos. Também torramos ao Sol de Copacabana e tentamos incorporar as "cocotas" da moda.

Lucely tem uma irmã chamada Maria de Fátima, a Fafá, que surge na segunda foto à esquerda, com um ar irreverente fumando um cigarro. Com Fafá e seu marido Heitor desfrutei de momentos incrivelmente divertidos. Eles foram para mim um esteio em muitos sentidos, num momento difícil da minha vida. Foi Heitor quem me informou de uma prova para admissão no Arquivo Nacional, local onde trabalhei vinte e cinco anos e me realizei profissionalmente.

No Arquivo conheci minha outra irmãzinha de alma, Cláudia Boissier, na foto comigo à direita. Acima de nossa cabeça surge a imagem de um anjo da Belle Époque, simbolizando nossos laços abençoados pela arte e pela liberdade de pensamento. Nossa afinidade abarca uma infinidade de interesses, de costuras à Arteterapia, da análise de sonhos às divertidas paródias musicais.

Meu segundo casamento com Franklin também veio pelas mãos mágicas de Inês, pois o conheci no casamento de uma colega do Arquivo Nacional.

À esquerda minha amiga e professora de inglês Laureana, por quem nutro uma grande admiração e afinidade. Por necessidade do trabalho no Arquivo resolvi ingressar na Cultura Inglesa onde a conheci. Lau tem o dom da palavra seja em inglês ou português. Nessa foto estamos na Cobal Humaitá e atrás de nós a placa Espírito das Artes sugere uma amizade calcada no que há de mais sublime. Arte como expressão de criatividade. Nossos papos sempre me estimularam muito nesse sentido, portanto a imagem nada mais é que a manifestação da aura que nos envolve.

Voltando à Inês, sua imagem no centro, jovem e linda com seus longos cabelos negros foi adornada com a imagem do Sol alado egípcio. Símbolo de proteção utilizado nos antigos templos, surge aqui coroando-a e protegendo-a. Acima do símbolo outra fotografia onde estamos juntas num dia qualquer de verão. Seu sorriso era assim, esplêndido.


Acima de nossas cabeças pássaros em revoada. Vida que se renova. Bênçãos vindas do céu. Uma amizade transcendente que não se acaba nessa vida.


Nunca conheci alguém que, como eu, tivesse a sorte de ter tido uma amizade assim. Uma amiga que representasse a pedra fundamental da sua construção. 

Quando olho para trás percebo que todas as experiências afetivas e espirituais mais significativas da minha vida tiveram, de forma direta ou indireta, as mãos mágicas de Maria Inês.


Constatar a grandeza dessa amizade deu-me força e coragem para superar sua morte precoce. Certamente nossos laços continuam. Onde quer que ela esteja receberá o amor e a gratidão que ardem em mim, chamas flamejantes onde um dia tornaremos a nos encontrar.




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