Na sessão de arteterapia de hoje Vanda sugeriu uma colagem com o tema "Viagem ao Piauí".
Excelente ideia fazer uma expressão do que foi para mim uma viagem inesquecível.
Entre os dias 18 e 21 de maio eu, minha irmã e minha prima de Brasília, Onécia, fomos a Teresina e hospedamo-nos na casa de nossa prima Evanilde.
Foi uma viagem cheia de simbolismo, um retorno às origens de nossas mães. Uma quebra de tabu, visto que elas nunca retornaram à terra natal. Aliás, nem nossas mães nem nenhum dos seus irmãos ou minha avó jamais retornaram.
A ideia da viagem teve início há cerca de três anos, quando Eva esteve no Rio e nos convidou. Apesar de estar motivada faltou impulso para realizar a viagem.
Esse impulso veio de forma avassaladora após a constelação familiar em grupo que fiz sob supervisão de Silvia Rocha.
A constelação foi um divisor de águas para mim. Vivenciei revelações e sentimentos muito profundos sobre minha família.
Os primeiros três meses pós constelação foram tempos de introspecção e depuração.
Em meados de fevereiro compramos as passagens, e seguindo orientação de Eva, optamos por viajar em maio mês em que a temperatura estaria mais amena.
Antes demos uma passadinha por Brasília e pegamos nossa prima Onécia.
A família do Piauí é grande. Meu tio Bergamine teve sete filhos, dos sete conheci cinco, pois uma das primas vive em Fortaleza.
Fomos recebidas como rainhas. O apartamento da prima Eva é muito confortável. Ela nos recebeu com um brinde de pró seco na varanda de seu apartamento com uma bela vista do bairro do Joquéi.
E as refeições? Verdadeiros banquetes com todas as iguarias maravilhosas do nordeste. No café da manhã tapioca, cuzcuz de arroz e de milho, queijo de coalho assado, frutas, sucos incríveis de umbu, tamarindo, bacuri, fora outros mais conhecidos como acerola, suco verde etc.
Almoços e jantares inesquecíveis com Maria Isabel, arroz de carneiro, bacalhoada, baião de dois, salmão, namorado, saladas incríveis, paçoca, linguicinha caseira, costelinha e por aí foi.
Entre uma refeição e outra, um copo de Cajuína geladinha para espantar o calor!
Encontrei pontos de interseção que fazem de mim uma Bemvindo: a amabilidade, o riso fácil, a simplicidade e a hospitalidade. Hospitalidade que aprendi com vovó Lili ao longo de meu convívio com ela.
Foram dias de comunhão, recordações e identificação. Foi bonito constatar que mesmo com a distância física e temporal nossos laços são estreitos e há muita afinidade entre nós.
Meu sobrenome é Silva Pinto mas, definitivamente, sou uma Bemvindo!
Para provar meu pertencimento ao clã, apesar de não comer carne de boi, frango e porco há mais de quatro anos experimentei a paçoca, farofa com mais carne seca que farinha, e um pedaço de linguiça.
Um dia a prima Eva me chamou à cozinha para ensinar-me a fazer uma bacalhoada muito especial, receita que ela prepara nos natais de sua família há mais de trinta anos. Em outro, as primas Lucy e Paula ensinaram-me a fazer patch colagem e bordar com um ponto bem miudinho.
E os presentes? Saímos de lá carregadas com doces, pacotes de goma, queijos, farinhas, castanhas, Cajuínas, toalhas, potinhos, necessaires, paninhos e cerâmicas.
Nesses poucos e memoráveis dias honramos nossas raízes, saímos de nossas zonas de conforto, experimentamos o novo, e comprovamos que o Amor de nossos antepassados corre em nossas veias e corações.
Voltei para casa com a sensação de ter cumprido uma missão muito especial. Um resgate.
E o trabalho expressivo mostrou tudo isso.
No centro do trabalho está Pégaso, cavalo alado presente na mitologia grega no mito de Perseu e Medusa, aqui representando o aspecto numinoso do encontro de família. Magia e luz. Abaixo à direita uma imagem de alimentos conecta-se à outra imagem onde se vê homens em prece agradecendo o alimento recebido. A viagem foi um alimento para minha alma e sou profundamente grata pela oportunidade de estar com as primas.
Ainda à direita uma árvore sai da água. Não se vê suas raízes mas se pode inferir que estão dentro da água. Mais a frente vemos águas mais revoltas. A viagem foi uma experiência intensa. Um mergulho em nossas emoções.
À esquerda uma colcha de retalhos linda, bem colorida, atributo dos valores femininos de minha família. Essa colcha representa para mim a vovó Lili.
E por falar em Lili, fiquei feliz em saber que minhas primas conviveram com a irmã de vovó Lili, a boníssima tia Enedina. Foi bacana constatar que elas receberam o aprendizado das mulheres Bemvindo pelas mãos doces de tia Enedina.
Voltando ao trabalho expressivo, na parede lateral à cama vemos um altar que se conecta aos homens em prece. Tudo se conecta na imagem, exatamente como foi a nossa viagem. Conexão. Uma viagem de retorno ao clã, ao feminino, ao amor dos Bemvindos.
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